A alma funciona maravilhosamente dentro do meu corpo. Nele se aloja,
evidentemente, mas sabe escapar dele: escapa para ver as coisas, através
das janelas dos meus olhos, escapa para sonhar quando durmo, para
sobreviver quando morro. A minha alma é bela, pura, branca. E se meu
corpo barroso – em todo o caso não muito limpo – vem a se sujar, é certo
que haverá uma virtude, um poder, mil gestos sagrados que a
restabelecerão em sua pureza primeira. A minha alma durará muito tempo, e
mais que muito tempo, quando o meu velho corpo apodrecer. Viva a minha
alma! É o meu corpo luminoso, purificado, virtuoso, ágil, móvel, tíbio,
fresco; é o meu corpo liso, castrado, arredondado como uma bolha de
sabão.
Foucault
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